No time to die
Em memória a minha amada irmã.
Mari tinha 30 anos quando pulou do 12° de um hotel em Salvador. Ela não queria morrer. Amava a vida, a veterinária e os animais, as festas e os amigos e tinha planos pro futuro, mas não aprendeu a se amar o suficiente, em parte porquê não a ensinaram, em parte porquê não encontrou o caminho sozinha. O amor que lhe faltava a fez achar que ninguém a amava também e ela passou a querer provas de amor. Em desespero em uma completa confusão mental, ameaçava se matar para saber quem e quanto se preocupariam.
Quem a salvaria de si mesma?
Passada a euforia e o love bombing que recebia pós-tentativa, logo se iniciava outra. Desaparecia, postava mensagens de despedidas e mandava pistas de seu paradeiro para quem se preocupava. Até aonde as pessoas que diziam amá-la estavam dispostas a irem para tê-la viva? Ela sabia que estava doente, ia a médicos, tomava remédios e fazia disso o grande show de Mariana.
Até que ponto o doente já não se reconhece mais sem a sua doença?
Oito meses e várias tentativas de suicídio depois, com a credibilidade de suicida em cheque, Mari se matou porque estava em sofrimento, mas também para provar que podia. E eu que vinha fazendo um longo e esforçado caminho para construir meu amor-próprio; partindo do princípio que tivemos a mesma criação e compartilhávamos das mesmas dores, apesar de sermos indivíduos diferentes, por mais que irmãs, e pensarmos e sentirmos à sua própria forma; me vi fragilizada, sem esperanças, precisando dar amor e presença ao meu bebê de 6 meses, ao mesmo tempo em que apenas me manter viva já demandava toda minha energia.
Que direito eu tinha de continuar viva tendo em mim também todas as suas dores?
Pensei que honrá-la seria viver a sua dor e me jogar da janela com meu filho, pois pensava em poupá-lo da falta que é crescer sem mãe. Construí a cena em minha mente e a revisitei diversas vezes até aceitar que ela nunca tomaria realidade.
Quão corajosa ou desesperada é preciso estar para se matar?
Se eu não me mataria, então precisaria ser a pessoa mais feliz que eu conseguisse ser. Viver no meio-termo não é uma opção. O fundo do poço é um lugar hostil, escuro, solitário e sem alegria. Foi aí que a chave virou e eu consegui reunir impulso suficiente para sair da lama que me segurava. Mas seria ingênuo dizer que esse caminho é uma linha estável, mas sim, é uma linha contínua e crescente. Quanto mais se experimenta, mas refinada fica e mais facilmente se vê/sente qual é o caminho para a SUA felicidade.
Mari me ensinou que mesmo na pior das perdas há a possibilidade de um ensinamento através da transformação. Não tenho tempo para morrer, não tenho tempo para me demorar na tristeza, não tenho tempo para o que não está contribuindo para minha felicidade. Serei feliz, por nós duas, por nós três. Obrigada, irmã, eu te honro em vida.
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